20/03/2010

NÃO SE PODE SAIR COM TOURO NA RUA

Não fosse o fim da festa (não conhecia ninguém) – mas meu irmão insistiu – não permitiria que ele prosseguisse – eu sonhava (começou a chover).

(Olhei o céu e nada). No banho, vendo meus olhos abertos, retomou o assunto – o que havíamos conversado? Permaneci na cama com um sorriso de quem ouve. Estava se limpando da noite, dos lençóis, do suor, do meu corpo, da lembrança da noite, do suor do meu corpo. (Olhei o céu e nuvens).

Entrei (não havia ninguém na casa), peguei algumas roupas – alguns papéis no chão –, sentei.

“Me ajuda a lavar a mão?”
Era muito pequena deitada no assoalho.
“O que houve?”
Não tinha um braço e uma perna.
“Nada...”
Hematomas amarelecidos e azuis.
“Como assim?”
Era muito pequena sentada no lavabo.

Não. Não a conheço. Olhos vermelhos? Um pouco de pó, talvez. Senta. Quer? Não, não a conheço. Só nos falamos uma vez. Ela estava sozinha. Precisava de atenção. Mas não a conheço. Parece bonita. Não. Não lembro o que conversamos. Era sobre ela. Estava sozinha. Estávamos na sala. Um pouco de pó. Ela estava sozinha. Precisava de atenção. Não. Não lembro. Eu sei o que eu queria. Queria sexo. Só sexo. Um pouco de pó. Então acho que ela queria. Não sei. Foi tudo muito rápido. Não sei o nome. Não lembro. Só sexo. Ela estava sozinha. Não fiz nada. Aliás. Ela nem gritou. Entende?

Fechou o registro, enxugou o sexo, continuou o assunto (como?), repetiu, falou atrás da toalha, veio em minha direção, (como?) te amo. Já estava em cima de mim, meu amor, repetia, meu amor, sua pele ainda fria do banho, sua boca com gosto de pasta, me chupa, meu amor, goza, meu amor, meu amor... Alisou meu rosto, beijou, levantou, lavou o sexo, falou algumas palavras, virei de lado e fechei os olhos.

Saí de sexo exposto, andei na calçada, alguém parou e me disse alguma coisa, sorriu e se foi, continuei na calçada, atravessei um jardim, não lembro qual casa, um pai comia o filho no quarto, voltei pra calçada, meu irmão veio falar comigo. Não. Não lembro. Era importante?

Mandei tomar no cu. Vesti minha roupa. Preciso ir. Preciso ir.

(2006)

Um comentário:

Paula Zilá disse...

Muito desconsertante esse velho-novo-chico!
Tenho gostado bastante da sua escrita!

grande beijo, meu querido mineirim