02/04/2010

Penetrar com o olhar algo tão profundamente até que desapareça.

distraídos

quando seus olhos não viam o vento
carregando as folhas
e o gesto agressivo do tempo
suas mãos perdiam o tamanho das coisas

As bordas da angústia dão os limites do meu corpo, do desejo comprimido em perguntas

Ando passo a passo perplexo.
Parado refaço o trajeto.
Ando passo a passo distraído.
Interrompo o fluxo contraído da vontade.
Deserto do pensamento.

Passo a passo perplexo
Passo perto da palavra sexo
Parada a um pé da porta.

Qualquer lugar tornou-se lugar comum

A vegetação asfáltica da cidade atravessa a retina da rua.
...

Despedida do inverno

o sol a um passo da porta cobre a cama que guarda o sabor do sono sereno e do silencioso despertar na súbita manhã

na densa aridez do fato, irrevogável ato da memória em cacos dos pequenos objetos cotidianos lançados no abandono, decomposição da matéria pelo uso dos sentidos

a lembrança refaz o fato que resiste ao esquecimento e repete o corte, a parte incongruente, a gravidade inversa para alcançar o vôo da janela

cansada de existir

ignorância

não acredito em verdades silenciosas,
desconfio de idéias estáticas,
prefiro pensamentos estrábicos
que duvidam de espelhos e de
si mesmos.

Taxonomia do tóxico (letra F)

A flor, o futuro fruto; a faca, o furto; a força fabricada na fúria; a farsa, a fuga; afã e fadiga; a fé no futuro e na fortuna; a falsa felicidade, a falta de fragilidade; a fome e a feiúra; a feira e a fartura; a fruta, a folha; a fita, o fígado; o falo, a fala, a fenda; fonema, figura; o fascículo e o folhetim; o fascínio e o festim; a fila, a faísca, o fio; a ferida e o fim.

"o que dá na telha escorrega"

sensorium

Primeira experiência sonora em quatro partes ao todo

1. válvula de descarga
2. motor de geladeira
3. dilatação do piso
4. água em ebulição

(combiná-las de diferentes formas)

música do vento

Linhas de nylon de diversos comprimentos estendidas verticalmente e dispostas lado a lado ao longo da praia (ou em outro lugar com vento) produzindo uma harmonia.

conversa com manoel

irmanei com pedras

nossa harmonia quieta
tem chão e coágulos
de chuva e vento

me acento onde quer
a gravidez do mundo
uma permanência impossível

nesse estado de pedra
fragmento de estátua
ponte e possível
vôo

conversa com caeiro

"pensar incomoda como andar na chuva"
quando o vento é contrário
e as calçadas empoçam

os homens conversam sozinhos
atrás das janelas
habituados ao silêncio
após as perguntas

o céu feito chumbo
ou cinza de incêndio
...