06/03/2009

ando abismado, perplexo
absorto, perturbado com tudo

ando abatido, complexo
absurdo, conturbado contudo

ando no abismo, reflexo
quase morto, vazio do meu corpo

ando obscuro, recluso
obtuso, confuso até o pescoço

ando abstrato, fluxo
obstruso, aborto da vontade

ando obsceno, aceno para o desejo
abissal, aberto pelo medo

ando mesmo cansado, convexo
disperso o mundo em fragmentos

ando angustiado até os pés
rasgarem e crescerem bolhas
de ar nos meus olhos

08/02/2009

Caminho, a passos longos e vagarosos, todo o peso do corpo nos pés, em direção ao mar, que suavemente me cobre, lentamente me despe, e a superfície do olho inunda, todos os poros perfura, frio flutuo.

30/01/2009

a mim mesmo o mar

cobre quando escuro


meus pulmões viram algas

meu crânio corais

esqueci-me de ser

aquilo que queria

há poucos segundos


uma vontade fraca

de continuar aquilo que há

pouco tempo perdi

todos os dias serão tristes como este

em doses homeopáticas

acompanhadas de tédio e surtos

de surdez de doze em doze

ou oito em oito horas

sobretudo às quartas em que

o dia é cinzazulado

ou outono


acorda-se tardes com tristeza

desconjuga-se rio de rir

represa


minha caricatura passa

passa pela sala despida

de si-mesma alvoroçada

a caricatura-eu


perde-se

...




a dor não era menor

que a de todos os outros

dias cansados


vê-se:

a face caída

a faca enferrujada


entende-se com os objetos

largados sem se entenderem

geralmente coisas sem importância

como palavras