16/06/2010

uma carta não enviada

Escreveria uma carta como uma arma apontada para sua cabeça e dispararia palavras à queima-roupa num súbito assalto exigindo tudo aquilo quanto me deves.
Escreveria uma carta em uma parede de vidro para lhe ver através, sentado em sua sala espelhada olhando a si mesmo como quem se perguntasse inocente por sua culpa.
Escreveria uma carta feito um cão faminto e farejaria seu corpo e lamberia sua orelha enquanto estivesses dormindo sem sentir minhas pegadas à sua volta.
Escreveria uma carta como quem se percebesse mudo e gemesse de desespero diante de sua partida.
Mas você distante, parado, acena surdo, à espera de que eu diga adeus.