02/10/2011

em que nada acontece III


“Procure a sorte à sua volta, ela pode estar mais próxima do que você imagina”, dizia o bilhete, que depois perdi.
Usei o perfume dos bravos – pensei: é preciso coragem para prosseguir. Conversei com três lobos perdidos numa noite sem lua. Guardei um jasmim sob o chapéu para perfumar os cabelos. Esperei amanhecer, hora em que os prédios são de uma cor confusa.
Fiz uma lista, que depois perdi, de coisas imprecisas que fazer: sair de casa sem anúncio ou previsão, vagar pela cidade sem destino ou propósito – pensei: quem não espera não encontra o inesperado. Comprei sapatos que mordem o calcanhar. Dei com bares e portas fechados, pessoas indecisas como eu e lugares previsíveis como sempre. Pensei: é preciso coragem para parar.
Sem pensar, estático, com os olhos ora ao longe ora ao chão, me surpreendi quando um estranho me perguntou o que faço, realmente: nada. Isto fez estender o desentendido.
Saí só para só ficar. Assim é, em que nada acontece, como sempre.
Sempre previsível, nunca provável.

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