02/10/2011

em que nada acontece II

Quase. Zero muda tudo. Nunca ganhei nada, nem em sorteio, bingo ou coisa parecida. Não que participasse ou esperasse algo. Nunca me empenhei em nada. Não acredito na sorte. Aposto, mas nunca em números.
Desconfio de todo ato. O mínimo é o máximo. Nada fazer exige coragem.
Deram-me um número: trinta e três. Não, não era o pneumotórax. Sem acreditar (como alguém que contempla a arquitetura contraditória que os homens erguem em monumento à ineficácia da duração – tudo perece, penso), aguardo.
Disseram: trinta e três. Por alguns segundos titubeei. Por gentileza, não por acreditar (como alguém que ensaia um gesto estúpido e previsível para ser espontâneo – o que o torna mais estúpido ainda), prossigo.
Não, trinta e três não é trezentos e trinta. Zero faz toda diferença. É isto.
Dei a volta ao círculo. No meio do caminho, quase encontrei: Leisa. Parei por alguns segundos. Não, havia um zero, um redondo G antes de Leisa. Sim, quase, sempre.
Tarde cheguei a casa, cansado de nada acontecer.

Um comentário:

Paula Zilá disse...

estranhos momentos/ movimentos e desatinos...
estranhamento de si e do mundo...
o cinza dos prédios, o perto do asfalto... sinto falta de céu azul e rosas vermelhas! vem comigo?