12/10/2008

Aquele sujeito, cansado de existir, resolveu ser relógio, agenda, pedra, souvenir, um objeto qualquer que se esquece na gaveta. Não fala com ninguém, apenas ouve as vozes que reverberam sozinhas, acompanha os passos desorientados e pausas na respiração. Quer que o dia termine, mas não consegue dormir; está cansado demais para fechar os olhos, para ler ou pensar qualquer coisa. Desistiu de ir à rua, observar as pessoas, vaguear na areia, tomar banho de mar, ficar triste ou contente pela inexplicável sensação de estar vivo. Não pode chorar, não pode sorrir, não pode correr, não pode ser outro, nem José; não quer morrer, não quer querer, não quer negar, não quer nada. Quando o vi desse jeito, não lhe disse palavra alguma, nem lhe abracei, não o consolei. Ali mesmo, parado, sem pressentir seu desespero ou notar qualquer angústia, deixei que sua existência esgotasse até se perder de meus sentidos, até esquecê-lo, definitivamente.

Um comentário:

Paula Zilá disse...

Eu já fui um sujeito que quis firmemente ser átomo ou ar, ou nuvem e broboleta...
pra voar solto, caminhar com o vento, ou apenas ser o princípio de uma vida qualquer.

um pouco de pretensão, mas me desculpo nos olhos humanos e nos cinzas, do gato.

saudade grande de tu e da minha mais que querida Jujubita.

beijolho!