MEMÓRIAS DO VENTO
Qualquer palavra poderia ter sido a primeira.
Se não fosse, quem teria dito?
A única sensação que tenho são as palavras e como estranhamente lembro-me delas.
O que une e delineia as palavras é um abismo – e percorrê-lo, vertiginoso.
Ficar: intervalo entre o tempo de distância e a possibilidade da chegada.
Partir: a saída mais óbvia e angustiante.
Qualquer direção que poderia ter sido única era incerta.
Agora parece ser o único instante que não retorna. – E por que haveria de retornar? (Posso perguntar dez vezes!)
Soa outra vez um desejo: ouvir mais silêncio e chuvisco.
A existência habita o tempo
, de que meu corpo se alimenta.
A luta pela sobrevivência é apenas condição para afirmar temporariamente minha existência.
Depois de corpo em queda
toda lembrança é vazia.
Como perder o chão, não ter onde apoiar a vista – vertigem horizontal.
É preciso mergulhar no esquecimento para não ficar somente com o que paira na memória.
Sem origem – vertigem do tempo.
Na areia o mar sepulta rastros. Na calçada não restam passos. Na memória não existem fatos.